'O agente secreto': Wagner Moura fala sobre campanha para o Oscar e carreira dos palcos a Cannes
10/11/2025
(Foto: Reprodução) Maju Coutinho entrevista Wagner Moura, estrela do filme 'O Agente Secreto'
Um professor perseguido pela ditadura militar é o personagem de Wagner Moura no filme "O Agente Secreto", lançado no Brasil nesta semana. A produção é dirigida por Kleber Mendonça Filho e mistura drama, crítica social e suspense.
Desde a estreia internacional em maio, o filme já acumula mais de 10 prêmios, entre eles o de Melhor Direção e Melhor Ator no Festival de Cannes, um dos mais importantes do cinema.
O Fantástico conversou com o ator, que falou sobre campanha para o Oscar, relembrou a época das novelas e contou sobre seu novo projeto como diretor.
"É um filme sobre um homem que resolve manter-se fiel aos seus valores, quando tudo o que tá ao redor dele diz o contrário", diz Wagner Moura.
Campanha para o Oscar
Depois da vitória inédita de "Ainda Estou Aqui", que deu ao Brasil o primeiro Oscar de melhor filme internacional, "O Agente Secreto" é o representante brasileiro na disputa por uma indicação e a expectativa é grande.
Ao Fantástico, Moura contou que conversou sobre a campanha para o Oscar com Walter Salles Júnior, diretor de "Ainda Estou Aqui".
"Conversei claro, conversei com o Waltinho, com aquela sabedoria dele, ele me orienta muito. Eu encontrei com Nanda [Fernanda Torres] também, que é minha super amiga. É não ficar doente, viajar, falar do filme, encontrar as pessoas, ir nos festivais", explica o ator.
Wagner falou sobre Tânia Maria, artesã de 78 anos que interpreta Dona Sebastiana no filme: "Ela se coloca de forma tão inteira, tão honesta, e tão ela. É uma beleza de ver".
Caso Miguel
Uma das cenas do longa lembra o caso de Miguel, menino de 5 anos que caiu do nono andar em 2020, no Recife, após ser deixado sozinho no elevador pela ex-patroa de sua mãe.
Wagner Moura encontrou, por coincidência, com Mirtes, a mãe de Miguel, em um aeroporto:
"Cara, eu fiquei muito emocionada esse dia. Ela chegou, ela disse: 'Oi, eu queria falar com você, eu sou a mãe do Miguel'. A dimensão dessa perda, esse tipo de acontecimento que dá conta muito da desigualdade, da injustiça. Elas estão aqui e a gente não pode deixar de ver vê-las, não pode fazer de conta que elas não existem. Isso tá entranhado nas coisas que eu faço".
Das novelas ao Festival de Cannes
"Quando eu fazia novela, eu me senti assim: 'Eu sou um ator brasileiro. Eu tô fazendo isso aqui que é um produto muito característico da cultura brasileira'", conta o baiano.
Moura também interpretou o temido Capitão Nascimento em "Tropa de Elite", papel que ficou eternizado na história do cinema nacional.
"É também um personagem absolutamente brasileiro e parte do Brasil, um personagem muito real, muito realista, e um personagem muito complexo. Eu convivi com muitos homens do Bope que são homens íntegros e que acreditam que o que eles estão fazendo é uma coisa importante para o país".
"Eu não tenho a verdade do filme. Eu posso dizer qual é a minha intenção ao fazer aquele filme. Mas a maneira com que as pessoas leem aquele filme é legítima. Se quiser ler aquele filme como uma apologia à brutalidade policial, faz parte. Agora, não podemos normalizar, achar que é normal haver 120 corpos de pessoas no chão de uma cidade, isso é uma loucura", aponta o ator ao falar sobre a megaoperação de 28 de outubro no Rio, que deixou 121 mortos.
Raízes baianas
O ator de 49 anos acumula quase três décadas de carreira. Tudo começou nos palcos de Salvador, ponto de partida para uma trajetória premiada aqui e fora do país.
Apesar de ter construído uma carreira internacional, o ator já disse que pensa e atua melhor em "baianês". Ele contou sobre como é atuar em outras línguas:
"Javier Barden, que é um ator que eu adoro, falou assim: 'Quando eu estou atuando em inglês, é como se dentro da minha cabeça tivesse um escritório com as pessoas trabalhando para aquilo dar certo'. Eu acho essa metáfora perfeita. Mas hoje em dia eu ligo muito menos, hoje em dia eu chego lá e falo".
Novos projetos
Após 16 anos Wagner Moura, retornou aos palcos. A peça "Um Julgamento" é um clássico do teatro adaptado do Brasil de hoje. A cada apresentação, é realizado um veredito diferente e quem julga é a plateia.
"O julgamento é baseado numa peça do Ibsen, chamada 'O Inimigo do Povo', sobre um médico que descobre que as águas da cidade estão contaminadas. Ele faz a denúncia, então ele vira o inimigo do povo. E eu sempre me impactei muito por essa história", diz o ator.
No momento, Wagner se divide entre a campanha internacional de "O agente secreto" e as filmagens do seu mais novo projeto, o filme "Last Night at the Lobster", ainda sem título em português.
"É o meu primeiro filme que eu vou dirigir nos Estados Unidos e atuar, primeira vez que eu vou atuar e dirigir. É um filme típico um filme de Natal americano, só que dirigido por mim. Então, assim, a mágica não vem do céu, não vem de nada, vem das pessoas".
"Você tem que saber quem você é, gostar de quem você é, saber que você é uma pessoa em evolução, eu faço o que eu acredito, o que vai me modificar, o que vai me inquietar, o que vai me deixar perturbado, no bom sentido", conclui.
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